Batman v Super-Homem: Retrospectiva [1989 - 1997]
Em antecipação à estreia de Batman v Super-Homem: O Despertar da Justiça vou fazer uma retrospectiva das sagas cinéfilas dos dois super-heróis, começando no Super-Homem de Christopher Reeve e passando pelas interpretações do Batman de Burton e Nolan.
[1989 - 1997] Homem-morcego: das trevas para as luzes de neon
Em 1989 um vendaval varreu os cinemas um pouco por toda a parte. De repente a adaptação de Tim Burton levava Batman das páginas da banda desenhada para o grande ecrã e para as bocas do mundo. Com um merchandising avassalador - encontrávamos o símbolo do morcego literalmente em cada esquina - foi um sucesso esmagador devolvendo o negrume à personagem depois de viver cerca de vinte anos com o camp celebrizado por Adam West na série televisiva dos anos sessenta. Apesar da escolha, pouco consensual na altura, de Michael Keaton para o papel principal a aposta foi vencedora incluindo a escolha de Jack Nicholson para interpretar o Joker, eterno arqui-inimigo do Homem Morcego. As sensibilidades de influência gótica de Burton encaixaram como uma luva no universo do Cavaleiro das Trevas e, apesar de algumas alterações ao texto e espírito original da personagem, e de, em retrospectiva, o filme não ter envelhecido graciosamente, Batman foi revolucionário no que respeita a adaptações de super-heróis, tanto no respeito ao material, como na viabilidade financeira sendo um dos exemplos maiores do género, até à data, juntamente com com Super-Homem de 1987.
Com o sucesso de Batman tornou-se inevitável a sequela. Tim Burton aceitou voltar à realização aproveitando para aproximar o universo do Homem Morcego às suas próprias sensibilidades. Este é o maior trunfo de Batman Regressa (1992), enquanto filme de Burton, e o seu maior defeito, enquanto filme do Batman, pois o autor relega o herói para segundo plano e mostra-se mais interessado nos vilões Catwoman (Michelle Pfeifer) e Pinguim (Danny De Vito), inadaptados e ignorados pela sociedade, personagens tipicamente Burtonianas, que unem esforços contra o herói com resultados surpreendentemente mais exagerados e ridículos mas ao mesmo tempo mais negro e sombrio que o anterior. Batman Regressa não repetiu o box-office do primeiro filme. Apesar disso foi um sucesso mas o tom mais negro não se demonstrou compatível com o merchandising e marcou o fim do reinado de Burton à frente dos destinos do Cavaleiro das Trevas.
Quando Tim Burton decidiu não realizar o terceiro capítulo da saga a decisão sobre o seu substituto ditou irreversivelmente o rumo e o destino da série. O escolhido foi Joel Schumacher que substituiu o negrume e seriedade da abordagem de Burton pelo tom mais leve e cómico, bem como pela estética, da série dos anos sessenta num retrocesso que não ajudou em nada a causa das adaptações de banda desenhada ao cinema. O golpe de misericórdia só seria dado no filme seguinte mas Batman Para Sempre (1995) é um passo de gigante nesse sentido. Com Val Kilmer solene e empenhado no papel principal, são as interpretações cabotinas de Tommy Lee Jones, como Harvey Duas-Caras, e Jim Carrey, como Enigma, que denunciam as opções tomadas, bem como a introdução de Robin, interpretado por Chris O’Donnel, que, apesar de traduzir um elemento existente no universo de origem, não traduz para o grande ecrã, diminuindo as dimensões humanas e trágicas da missão de vida do Homem Morcego.
Não existem desculpas suficientes que justifiquem a existência de Batman & Robin (1997). É surpreendente como George Clooney, que substituiu Val Kilmer no papel do herói vigilante, não viu a sua carreira cinematográfica encurtada por esta atrocidade. Mesmo a mais generosa das boas vontades não é suficiente para defender um filme onde o lema parece ter sido “mais e maior é melhor”. Além do horrível desenho de produção, da infantilização do universo, da inexistente caracterização das personagens ou da péssima direcção das inconsequentes cenas de acção, um dos elementos de maior responsabilidade neste descalabro foi a noção de que a presença de Arnold Schwarzenegger como o vilão Sr. Freeze, a disparar tiradas de discutível humor a cada linha de diálogo, era uma ideia vencedora. Batman & Robin matou a série durante largos anos e deveria ser um caso de estudo de como não abordar uma adaptação de banda desenhada ao cinema.
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