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Retrospectiva Star Trek: Star Trek

No ano em que Star Trek celebra o 50º aniversário e com a chegada a Portugal em Agosto de Star Trek: Além do Universo, o terceiro capítulo após o renascimento da outra saga espacial pelas mãos de J.J. Abrams, faço uma retrospectiva pelas onze longas-metragens produzidas entre 1979 e 2013.

Star Trek, 2009, dir. J.J. Abrams

Star Trek de J.J. Abrams é um caso curioso. Um filme realizado por um não-trekkie confesso, abrindo o universo a um público mais alargado, funcionando como sequela ao mesmo que faz um reboot e homenageia a saga e a mitologia existente previamente. E o mais fascinante disto tudo? É que, apesar de estar longe de ser perfeito, cumpre de forma excepcional todo o caderno de encargos a que se propôs sendo responsável, na minha opinião, pela vaga de sequelas que servem como homenagens aos filmes originais (Mundo Jurássico, Creed: O Legado de Rocky, Star Wars: O Despertar da Força) ou mesmo sequelas e reboots de propriedades inactivas há um bom par de anos (Os Caça-Fantasmas, Blade Runner - Perigo Iminente, O Dia da Independência). Correndo o risco de alienar os fãs mais empedernidos da saga Abrams torna o universo do Star Trek mais excitante e cheio de aventura e humor fugindo um pouco ao espírito do conceito inicial de Gene Rodenberry, mas tornando-o genericamente mais acessível.

Este é o filme da saga com maior orçamento e melhores efeitos especiais, feito por alguém que tem uma visão muito clara e definida. Abrams é algo superficial no tratamento das personagens e na construção da narrativa mas compensa-o com uma estética riquíssima e um ritmo frenético que nos impede de ficarmos muito agarrados aos defeitos que vai tendo. Considero o dispositivo narrativo deste filme uma manobra de génio para, sem negar o que veio antes, mandar legitimamente tudo às urtigas e abrir caminho para filmes futuros sem preocupações de continuidade.

Outro factor de sucesso é o elenco. Chris Pine é excelente como Kirk, recriando a fisicalidade de Wiilliam Shatner, sem o imitar: é convencido e insolente mas sem ser arrogante. Zachary Quinto oferece um Spock mais emotivo, John Cho é algo neutro como Sulu, enquanto que Karl Urban, Anton Yelchin e  Simon Pegg decidem caricaturar os originais Bones, Chekov e Scotty, respectivamente. Mas a grande revelação é Zoë Saldana como Uhura: forte, independente, apaixonada, decidida e competente. Esta é uma Uhura do século XXI e torna-se numa peça decisiva no triunvirato de personagens principais, juntamente com Spock e Kirk. Felizmente Abrams dá protagonismo a todos os elementos do elenco principal e cada um desempenha, num momento ou outro, acções decisivas  para o desenrolar dos acontecimentos. A inclusão de Leonard Nimoy, como o Spock original demonstra que Abrams não procurou um corte radical com o passado e, apesar de eu não ser um conhecedor profundo da mitologia, são óbvias as inúmeras referências às séries e filmes anteriores, conseguindo inclusivamente algum humor com estes momentos, tais como a revelação de uma relação tórrida entre Kirk e uma personagem que um trekkie facilmente reconhecerá. 

Última nota para a música de Michael Giacchino que referencia o tema da série televisiva original apenas no final e, até lá, consegue criar um tema que, sendo novo, encaixa como uma luva e provoca uma sensação de familiaridade, característica de uma boa banda-sonora, especialmente numa propriedade intelectual como o Star Trek onde o novo não pode ser tão radical que choque com o antigo. Este equilíbrio resume também o feito de J.J. Abrams que criou com a familiaridade do antigo todo um novo universo para uma nova geração.

Warp 8/10

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