O que falhou no regresso de Ficheiros Secretos?
Está na hora de falarmos do regresso dos Ficheiros Secretos. Sinto que passou o tempo suficiente para processar os meus pensamentos em relação ao que vi. Da última vez que aqui comentei a série tinha acabado de ver o segundo episódio desta mini-temporada de um total de seis episódios e dizia estar entusiasmado para o que se avizinhava. Lamento informar que a experiência foi amarga e tentarei explicar aqui porquê.
O que falhou neste regresso? Os nomes envolvidos estão associados a alguns dos melhores momentos da série original: o criador Chris Carter, os escritores, e nesta temporada realizadores, Glenn Morgan, James Wong e Darin Morgan e a dupla de actores Gilllian Anderson e David Duchovny estiveram todos de volta. O clima pós wikileaks e Snowden parece propício ao tema conspiratório que sempre caracterizou a série. No entanto o resultado final foi menor que a soma das partes.
Analisemos o que correu bem: gostei da economia com que, ao fim de um episódio Mulder e Scully estão de volta à acção, sem se perder tempo nenhum em justificar este regresso. Anderson e Duchovny estão em grande forma e regressaram sem esforço à familiar dinâmica. Gostei do equilíbrio entre os episódios da mitologia e os monstros-da-semana, fiel ao espírito original e, algo antiquado em relação à TV que se faz hoje em dia. Apesar de não termos tido o regresso de nenhum dos realizadores canónicos, como Rob Bowman ou David Nutter (Kim Manners entretanto faleceu), e ter sido dada a oportunidade de cada escritor realizar o seu episódio - três episódios no caso do criador Chris Carter - visualmente e esteticamente, o resultado foi competente.
O grande problema foi, surpreendentemente, ao nível da escrita. Aquele que era um dos pilares da série nos seus melhores momentos falhou desta vez. Os episódios de Chris Carter, My Struggle, Babylon e My Struggle II foram especialmente culpados neste departamento. Se é verdade que a cena em Babyon em que Mulder está, supostamente, sobre a influência de uma droga alucinogénia é divertida, esta arrasta-se para lá do aceitável e revela-se confusa e inconsequente para o episódio e para a caracterização do personagem. Já para não falar do par de detectives mais novos que servem como fotocópia de Mulder e Scully, Miller e Einstein, tentativa de passar o testemunho com duas personagens que funcionariam bem como paródia mas que é difícil levar a sério. Como já havia demonstrado no filme Ficheiros Secretos: Quero Acreditar, ao tentar incutir significados e temas importantes nas suas histórias, Carter deixa à mostra as costuras todas e coloca na boca dos seus personagens aquilo que deveria ser demonstrado através de acção.
Este é um sentimento que tenho também em relação aos medianos Founder's Mutation e Home Again, de James Wong e Glenn Morgan respectivamente. O dilema e peso emocional que dão às personagens, nomeadamente a Scully, referente ao filho que abandonaram, remete para as temporadas 8 e 9 da série. Ora, sendo as temporadas menos populares que, pessoalmente, nunca vi, o tema não ecoa como pretendido pelos autores e, apesar da entrega dos actores, esta revela-se ingrata e desperdiçada em cenas que parecem esbanjar o precioso tempo da curta duração de uma temporada de apenas seis episódios. Mesmo o divertido Mulder & Scully Meet the Were-Monster do sempre fiável Darin Morgan pára a meio para, em vez de a história se revelar a si própria através das acções dos protagonistas, estes conversarem(!) e explanarem(!!) sobre, não só a trama, como o tema do episódio.
Não sei qual será o futuro da série mas o final em suspense de My Struggle II torna claro que Chris Carter pretende continuar com as aventuras dos Ficheiros Secretos. Esperemos que esta arrogância não tenha sido prematura pois seria um final inglório para uma excelente série. Por outro a perspectiva de ver mais Ficheiros Secretos é, neste momento, uma proposta que me gera ansiedade porque, a haver mais, quero que seja por mérito próprio, objectivo claramente não cumprido por esta mini-temporada.
Uma última palavra para o desperdício da personagem de Walter Skinner. Para quê adicionar Mitch Pileggi ao genérico inicial, para depois não o aproveitar de nenhuma maneira substancial? Este dilema parece resumir toda a experiência destes seis episódios. Os ingredientes estão presentes mas perdeu-se uma oportunidade de ouro de recuperar algo mais do que apenas a nostalgia pela série original.
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