Segundo Take

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Um grande amigo num filme menor

Este texto foi publicado originalmente na Take Cinema Magazine dia 11 de julho de 2016 com o título O Amigo Gigante e pode ser lido na íntegra aqui.

Não fiquei particularmente entusiasmado quando soube que o novo filme de Steven Spielberg seria The BFG, a adaptação de um livro infantil de Roal Dahl, popular autor nos seus Estados Unidos da América de origem, e do qual já tivemos adaptações cinematográficas de Charlie e a Fábrica de Chocolate e O Fantástico Senhor Raposo, entre outros. Não sou grande conhecedor da sua obra, nem conhecia previamente O Amigo Gigante, apesar de apreciar muito a adaptação em stop-motion de Wes Anderson de O Fantástico Senhor Raposo e de haver muita nostalgia pela adaptação de 1971 A Maravilhosa História de Charlie que nunca vi.

A verdade é que é fácil subestimar Spielberg. Damos o seu valor e importância por adquiridos por causa da consistência da sua filmografia e a redescoberta a cada nova estreia de uma obra sua, não só não deveria surpreender, como confirma e consolida o seu talento. Apesar dos primeiros trailers não mudarem a minha reação hesitante inicial, o facto de O Amigo Gigante ser também uma colaboração com Melissa Mathison, a argumentista de E.T. O Estraterrestre, foi suficiente para dar uma oportunidade a esta nova aventura digital do realizador de As Aventuras de Tintin – O Segredo do Licorne.

E, se é verdade que é inevitável falar de E.T. quando se fala de O Amigo Gigante, ambos escritos por Mathison, e ambos sobre uma amizade improvável entre uma criança e um extraterrestre, no caso de E.T., e um gigante, em O Amigo Gigante, esta é uma comparação que não ajuda o filme mais recente. Se visualmente é impressionante, com as limitações do estado da arte dos efeitos digitais, no que respeita ao realismo, a não afectarem a verosimilhança do universo fantástico dos gigantes, já narrativamente sofre do facto de ser uma adaptação de um curto livro infantil. Mesmo não o conhecendo percebe-se, ao ver o filme, que os parcos acontecimentos da história são esticados pela duração de uma longa-metragem.

Os temas inerentes são reconhecíveis – a solidão, o anseio pelos laços familiares, o perigo do preconceito, a virtude da empatia, a complexidade do ser, o facto de que um gigante para nós pode ser um anão para outros e de que podemos encontrar inspiração e amizade nos sítios mais inesperados – mas não são servidos devidamente. O ritmo do filme é inconstante, bem como o seu tom, ora abraçando a comédia mais genérica, ora sendo assustador sem real ameaça ou consequência, desembocando num final algo inconsequente e de resolução fácil. Apesar de existir uma real empatia entre Sophie, interpretada por Ruby Barnhill, e a criação digital com a voz de Mark Rylance, a emoção invocada no final não é merecida nem orgânica.

Para quem planeia levar os miúdos a ver O Amigo Gigante deixo a opinião a quente, à saída do visionamento, da criança de 7 anos com quem vi a versão dobrada em português, com um ligeiro spoiler: “Houve muitas cenas assustadoras mas gostei no final quando os gigantes maus caíram no mar”. Uma opinião sincera, sintética e incisiva.

Não percam também as minhas divagações sobre este filme no episódio #38 do podcast Segundo Take.

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