Vamos falar de Star Wars: Ascensão de Skywalker
Bom, vamos lá falar um pouco de Star Wars. Prometo tentar voltar a calar-me até à data de estreia de A Ascensão de Skywalker, porém neste momento temos de reconhecer o lançamento do trailer final, bem como do póster que nos acompanhará daqui em diante. E que melhor momento do que este para reflectir sobre o filme que aí vem?
Depois da cisão do planeta na sequência da estreia de Os Últimos Jedi, e do inesperado regresso de J. J. Abrams para concluir a nova trilogia, formaram-se algumas dúvidas e outras tantas suspeitas sobre o rumo seguido pela Lucasfilm em reacção ao controverso (no mínimo) capítulo por Rian Johnson. Pertenço à minoria (maioria?) que se entusiasmou com o abanão dado por Rian. Abrams tinha conseguido com a sua sequela / remake / homenagem O Despertar da Força tirar o amargo de boca das “prequelas” e recuperar a base de fãs original à base de muita nostalgia. Por incrível que possa parecer, o senhor que se seguiu aproveitou a liberdade criativa recebida para deitar por terra linhas narrativas que olhavam para trás – ou, pelo menos, reproduziam fórmulas de sucesso do passado –, para propor algo novo, um olhar em frente, para além da “família” Skywalker na qual o remanescente dom da Força se parecia concentrar, apesar de uma galáxia inteira à disposição para explorar. É verdade que nem tudo foi perfeito: as expectativas de vermos o elenco original junto em novas aventuras foram pela janela, e o dispositivo narrativo da perseguição lenta em Os Últimos Jedi é questionável, bem como a incursão inútil de Finn ao que parecem ser cenas cortadas dos filmes de má memória do George Lucas. Mas a força das imagens, e a proposta para expandir o universo, ao invés de o fechar e limitar, faziam deste um capítulo incontornável para o futuro da saga.
Daí as dúvidas e suspeitas em relação ao que nos espera. Tudo sobre A Ascensão de Skywalker indica um retrocesso em relação ao que foi apontado no filme anterior. A começar no regresso da aposta segura J. J., e continuando no título que recoloca o foco da saga no “clã” Skywalker, dúvidas houvessem. Com o teaser trailer e póster somos ameaçados pelo espectro de “regressos”. E é de espectros literais que falamos: a carcaça da estrela da morte; a figura misteriosa que, ao que tudo indica, é o imperador que se julgava morto. Com o lamentável desaparecimento de Carrie Fischer, e a impossibilidade de a recuperar à excepção de algumas cenas não usadas nos filmes anteriores, recuperou-se Billy Dee Williams para se justificar a presença de uma cara conhecida – afinal queremos que os pais continuem a querer ir ao cinema com os filhos. Tudo parece indicar uma correcção de curso da parte da Lucasfilm, o que parece também indiciar duas coisas: a primeira é que a aposta inicial em três autores distintos para, separadamente, desenvolverem três capítulos de uma trilogia, cada um partindo da premissa deixada pelo anterior, foi um erro; a segunda, independentemente da qualidade do trabalho de Rian Johnson – aparentemente a produtora gostou tanto do resultado final que lhe ofereceu imediatamente uma nova trilogia só para ele –, a polémica e a reacção negativa são coisas a evitar, dando-se primazia ao que é conhecido e seguro. A ser verdade, com que custo para a originalidade e para o desejo de arriscar no processo criativo?
Concluindo: espero estar enganado, e desejo que A Ascensão de Skywalker seja uma obra-prima. Pelo trailer, pelo menos, aparenta ser uma aventura emocionante. Mas espero também que se tenha conseguido isso sem se olhar muito para o passado, e que, seguindo a dica de Os Últimos Jedi, se tenha expandido o universo com os olhos postos no futuro.
Star Wars: A Ascensão de Skywalker estreia a 19 de Dezembro e terá a devida cobertura aqui, no Segundo Take.