Segundo Take

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Sanzaru

A longa metragem de estreia de Xia Magnus toma para o título o provérbio japonês Os Três Macacos Sábios (um não vê, um não fala e um não ouve). Entre os vários significados que encerra, Sanzaru representa um olhar para o lado, a conivência, o silêncio e o segredo perante o mal. Aqui está a chave para este filme de tradição gótica que pisca o olho ao terror e ao sobrenatural na vertente de casa assombrada. Porém, neste caso, o assombramento tem origem no passado e no indizível.

Evelyn é uma jovem enfermeira filipina que toma conta de Dena, a matriarca idosa de uma família do Texas, na sua casa isolada. A viver com elas está Amos, o problemático sobrinho adolescente de Evelyn, bem como Clem, o filho de Dena regressado da guerra no Afeganistão, reservado e recolhido amiúde à caravana no quintal. À medida que o estado de demência de Dena piora, Evelyn começa a sentir algo ameaçador à espreita atrás das paredes, tentando comunicar pelo intercomunicadores instalados na casa. Será esta um canal de passagem para forças sobrenaturais? Ou estará ela apenas a ouvir coisas? No processo de descoberta, segredos são revelados, tanto da verdadeira natureza da relação com Amos, como de terríveis acontecimentos testemunhados pelas paredes da casa e por uma família cúmplice.

Funcionando como um drama familiar que se transmuta em thriller a lume brando, o terror de Sanzaru passa mais pela sugestão do trauma e das suas sequelas do que pelo choque ou tentativa de sobressaltar o espectador, apesar da opção de exteriorizar visões fantasmagóricas que a espaços oferecem uma qualidade onírica ao filme. É mais um exemplo do cinema independente americano, paciente na construção das personagens e na progressão narrativa em função da acção, muitas vezes pequenos gestos mundanos que gritam mais alto que mil palavras. No final, a verdade apresenta-se como a salvação, a solução para deixar o passado seu lugar e para cortar de vez os laços entre os que vivem e os que já partiram, permitindo-lhes finalmente o merecido descanso eterno.