Segundo Take

View Original

Episódio #10 - Star Wars: O Despertar da Força / As Aventuras Ewok

Your browser doesn't support HTML5 audio

Episódio #10 - Star Wars: O Despertar da Força/As Aventuras Ewok António Araújo

Nunca antes tinha vivido tamanha expectativa para a estreia de um filme. A única experiência comparável terá sido mesmo a expectativa para a estreia de A Ameaça Fantasma, primeiro episódio da saga que tem ocupado as primeiras páginas de todas as publicações nestas últimas semanas: STAR WARS. Depois das experiências das prequelas nada faria prever que, em primeiro lugar teríamos novos capítulos, e em segundo lugar que meio mundo ficaria à beira de um ataque de nervos na expectativa da estreia do mesmo.

Esta expectativa foi sendo alimentada com os sucessivos anúncios que se foram fazendo desde a notícia da venda da Lucasfilm à Disney: nova trilogia oficial e spin-offs no universo Star Wars, J.J. Abrams como realizador do episódio VII, o envolvimento de Lawrence Kasdan na escrita do argumento, o regresso do elenco original a complementar novas personagens, os teasers, os trailers, os cartazes. Nenhum passo foi dado em falso e Abrams demonstrou saber o que os fãs realmente queriam.

Mas tudo se precipitou nas últimas semanas numa demonstração que um novo Star Wars não é só mais um filme mas sim um acontecimento cultural à escala global onde, por paixão e cinismo em iguais doses, todos os meios informativos produziram retrospectivas, análises, antecipações, recordações, artigos e afins com uma disseminação nas redes sociais que quase fariam dispensar o marketing da Disney, não fossem os lucros astronómicos de todo o merchandise que neste momento não conhece limites: desde os tradicionais brinquedos até produtos de beleza.

E o filme no meio de tudo isto? A primeira boa notícia é que este é o melhor filme que os fãs podiam desejar. A segunda boa notícia é que O Desperta da Força é também um triunfo do marketing atrás referido que soube vender exactamente o filme que produziram, não estragando nenhuma surpresa nem tentando passar gato por lebre.

Recheado de piscadelas de olho à trilogia original J.J. Abrams demonstra um cuidado especial em agradar aos fãs sem nunca sacrificar a narrativa para tal. Usando economicamente os aspectos familiares da saga, elenco original incluído, deixa brilhar os novos personagens, herdeiros da nova trilogia, em interpretações empenhadas do novo elenco: John Boyega como Finn, Oscar Isaac como Poe Dameron, e especialmente a luz e as trevas desta nova encarnação, Daisy Ridley como Rey e Adam Driver como Kylo Ren.

Abrams consegue situar a nova aventura em território familiar, mas construindo uma mitologia e identidade própria. Este é o seu maior triunfo. O ritmo é frenético e as cenas de ação emocionantes. Se é verdade que algumas personagens são pouco desenvolvidas, vítimas da propulsão da narrativa, também é justo dizer que as peças centrais têm tempo para respirar e desenvolver o seu arco. A passagem de testemunho é conseguida com uma química de humor natural e orgânico assente no caracter das personagens, resultado de uma cuidadosaescrita de diálogos e de interpretações convincentes, factores decisivos para os laços emocionais que estabelecemos com elas no espaço de duas horas. Exemplo deste sucesso é o dróide BB8, digno sucessor de R2D2 e C3PO.

Outra peça central é a caracterização de Kylo Ren, o vilão desta nova trilogia, imaturo, impulsivo, imprevisível e dilacerado entre a sua natureza e as suas escolhas. Kylo Ren é, neste filme, o representante dos temas centrais da saga, da escolha entre o bem e o mal e dos conflitos familiares e será certamente, a par de Rey, central no desenvolvimento da história pelos capítulos VIII e IX.

Notas menos positivas, mas a carecer de nova visualização, serão algumas coincidências na narrativa e, a espaços, alguma falta de peso emocional em favor do ritmo frenético imposto por Abrams. Além disso, o sempre fiável John Williams, cumpre no departamento da banda sonora, mas sem deslumbrar faltando um tema marcante e distintivo, sendo mais eficaz nas chamadas aos temas clássicos e imediatamente reconhecíveis.

O futuro do Star Wars é risonho porque acredito que o melhor ainda está para vir. Com Rian Johnson ao leme do episódio VIII o legado iniciado por Abrams tem o potencial de ser expandido de forma inteligente e competente e colocará finalmente um enorme talento no mapa, não tenho dúvidas. Apesar de não ser o maior fã de Mundo Jurássico, Colin Trevorrow, realizador do episódio IX, provou que é capaz de entregar um blockbuster.

Também a abrilhantar o horizonte estão os spin-offs anunciados, denominados de A Star Wars Story, com Rogue One, realizado por Gareth Edwards, já a estrear em 2016 e um filme sobre o jovem Han Solo a ser escrito e realizado por Phil Lord e Chris Miller, a dupla responsável pel'O Filme Lego.

Vivem-se tempos maravilhosos para ser um fã do Star Wars.


Muito antes das prequelas do Star Wars terem manchado junto dos fãs a trindade dos intocáveis filmes originais já o inenarrável especial de Natal emitido na TV em 1978 tinha demonstrado que o universo de George Lucas era falível. Foi também para transmissão televisiva que, logo após O Regresso de Jedi, Lucas tentou capitalizar no popularidade dos Ewoks junto do público mais jovem produzindo dois telefilmes juvenis onde estas criaturas estavam no centro da acção, nomeadamente Wicket, o Ewok que lançaria a carreira de Warwick Davis. Falo de Caravana da Coragem, de 1984, e A Conquista de Endor, de 1985.

É discutível se estes filmes fazem parte do cânone da saga, mas é também irrelevante. Tendo passado cerca de 30 anos sem nunca os ter visto, colmatei esta omissão este mês no embalo do entusiasmo da preparação para O Despertar da Força, e a minha reacção imediata é que, dos dois filmes, um não é horrível, e o outro é a Caravana da Coragem.

O que poderia ser uma cativante aventura infantil é na realidade um filme desconchavado, com uma realização amadora e interpretações sofríveis, sem emoção, acção, aventura, ritmo ou noção de tempo fílmico. Mesmo os efeitos especiais, com o devido desconto de uma produção televisiva, atinge níveis dignos de um Ed Wood, com aranhas de borracha abanados em frente aos actores para efeitos dramáticos. Com uma narrativa reminiscente d'A Irmandade do Anel do épico de Tolkien, Caravana da Coragem tem como único elemento redentor as personagens luminosas wisties, um conceito simples mas de uma execução com técnicas de animação com real charme e impacto.

A Conquista de Endor é um produto curioso. Escrito e realizado pelos irmãos Jim e Ken Wheat, futuros criadores de Pitch Black - Eclipse Mortal e da sua personagem central que viria a celebrizar Vin Diesel, Riddick, começa por despachar, bem ao estilo de Alien 3, algumas das personagens centrais do filme anterior, anulando qualquer ligação emocional que pudesse haver com o filme anterior e deixando Cindel e Wicket entregues a si próprios na luta contra o Rei Terak e o seu grupo de saqueadores que procuram uma forma de poder que eles próprios parecem não saber do que se trata. O que se nota imediatamente é que o filme é muito melhor que o anterior, com cenas de acção relativamente emocionantes e outro sentido de ritmo e diversão. As interpretações também são de melhor qualidade, nomeadamente do veterano Wilford Brimley, cara conhecida de Veio de Outro Mundo ou Cocoon - A Aventura dos Corais Perdidos, e de Siân Phillips que muitos reconhecerão como a Reverenda Mãe Gaius Helen Mohiam do Dune de David Lynch.

Infelizmente dizer-se que um filme é melhor que a Caravana da Coragem não é grande elogio e A Conquista de Endor nunca chega a ser verdadeiramente memorável e marcou o fim, em boa hora, das aventuras dos Ewoks.