O Segredo do Refúgio
The Rental, o filme de encerramento da 14ª edição do MOTELX, é a estreia do actor Dave Franco atrás das câmaras, em colaboração com Joe Swanberg, prolífico autor e intérprete de títulos de baixo-orçamento em variados registos de género, incluindo o terror. Ora, esta é precisamente uma estreia de elenco e orçamento reduzidos assente na segurança providenciada pelas regras do género, num tímido slasher de variante “invasão domiciliária”.
Charlie (Dan Stevens), a mulher Michelle (Alison Brie), o irmão Josh (Jeremy Allen White), e a namorada de Josh e sócia de Charlie Mina (Sheila Vand), decidem arrendar uma casa com vista para o mar para um fim de semana relaxante, apesar das suspeitas de Mina de discriminação por o seu pedido ter sido negado sem motivo enquanto que o de Charlie, colocado pouco depois, ter sido aceite. Ao chegar à propriedade isolada, o grupo encontra o arrendatário Taylor, confrontado por Mina, que reforça a sua crença de que o pedido foi negado por questões raciais. Ultrapassadas as desconfianças, o grupo instala-se, no entanto, parece haver alguém a observar os incautos hóspedes.
The Rental é um filme de terror minimalista, o que diz tanto da contenção de Dave Franco na realização, e da sua paciência na construção narrativa, como na incapacidade de realmente tirar o maior proveito das situações potencialmente assustadoras que desenha. Durante mais de metade da sua curta duração, e apesar de alguns desajeitados diálogos de exposição, funciona quase como um eficaz drama psicológico a lume brando, com acções e segredos no seio do grupo que ameaçam a sua estrutura. Se esta dinâmica potencia o escalar da ameaça perante inesperadas revelações, a tensão e o sentimento de perigo tarda a aparecer. Quando finalmente o horror acontece, é demasiado breve e, inesperadamente, pouco impactante, deitando toda a construção psicológica pela janela e minando o envolvimento do espectador, o peso emocional pacientemente angariado trocado pela mecânica e convenções do género a que finalmente revela querer pertencer.
Não quer dizer que esta é uma experiência totalmente descartável. Há promessa na direcção comedida de Franco e o reduzido grupo de actores tem prestações seguras, garantindo verosimilhança em algumas das cenas mais improváveis. Chegados ao final, percebemos que também eles são vítimas literal e metaforicamente, descartáveis adereços para um conceito que, em pleno confinamento, parece oferecer conforto ao “vá para fora cá dentro” ao mesmo tempo que lança a escada para a (inevitável?) sequela.