Na véspera do 3º episódio do podcast onde falarei de Eles Vivem deixo-vos um texto editado e revisto do original de 05/10/2015 escrito para um episódio do Fãs Danados que nunca chegou a ser gravado.
As Aventuras de Jack Burton Nas Garras do Mandarim é o título em português inexplicavelmente longo de Big Trouble in Little China. Vi-o no cinema em tenra idade, presumo que algures entre 1986 e 1987. Esta experiência foi formativa em vários sentidos: reforçou a minha paixão pelo cinema fantástico e apresentou prematuramente a um miúdo impressionável um dos autores que se tornaria num dos favoritos da sua infância cinéfila: John Carpenter. O Regresso do Mal (Halloween), O Nevoeiro (The Fog) , Christine: O Carro Assassino, Veio de Outro Mundo (The Thing), Nova Iorque, 1997 (Escape from New York). Como era possível que todos estes filmes fascinantes e assustadores tivessem sido realizados pela mesma pessoa? E, afinal de contas, o que era isto de ser um realizador? Porque tinha John Carpenter direito a ter o seu nome por cima dos títulos nos genéricos?
É verdade: John Carpenter foi também a primeira instância em que me apercebi do conceito de autor. Toda a gente conhecia Steven Spielberg e George Lucas pelo enorme sucesso dos seus filmes icónicos. Mas aqui estava alguém que fazia filmes adultos de género do qual o seu nome era indissociável. Como referi atrás isto foi formativo pois abriu as portas à compreensão de que existe um processo artístico por trás dos filmes e, a partir daqui, a minha sede de conhecimento foi aumentando exponencialmente e a minha forma de olhar o cinema nunca mais seria a mesma.
Voltando à origem: Jack Burton. Durante anos vivi na ilusão de que era unânime que este era um filme de excepção. Até ao dia em que, com grande surpresa, leio algures que o filme tinha sido um flop e que não era considerado como um dos melhores momentos de John Carpenter. Em retrospectiva percebi que este foi o primeiro filme de John Carpenter após a aclamação com o mais sério e dramático Starman: O Homem das Estrelas e o último deste, na altura, para um grande estúdio, desiludido com os resultados e com a experiência. Nada disto me parece dramático pois logo de seguida fomos brindados com os filmes de menor orçamento mas não menos impacto Príncipe das Trevas (Prince of Darkness) e Eles Vivem (They Live).
A boa notícia é que As Aventuras de Jack Burton Nas Garras do Mandarim resistiu à passagem do tempo: de todas as vezes que o revisito continua a divertir-me como da primeira vez. Será que estou toldado por este enquadramento nostálgico ou Jack Burton é um filme de culto que merece o seu estatuto?