Com o aproximar da estreia do novo filme dos irmãos Coen faço nas próximas semanas uma mini-retrospectiva de alguns filmes desta dupla com os quais não estou muito familiarizado.
O Barbeiro (The Man Who Wasn’t There), 2001, dir. Joel & Ethan Coen
O Barbeiro não é dos filmes mais celebrados dos irmãos Coen. Apesar do prémio de realização em Cannes 2001, ex-aequo com David Lynch por Mulholland Drive, este exercício de estilo noir a preto & branco não teve grande repercussão junto do público. Isto apesar de ser uma destilação pura do estilo Coen, se é que tal coisa existe. A opção monocromática traduz, mais do que o género, a personalidade de Ed Crane, o fumador em cadeia e barbeiro titular no centro da trama, interpretado laconicamente por Billy Bob Thornton que desaparece completamente na personagem. Um homem reservado, pouco falador, sendo a excepção a narração em voz-off com que conta a sua história ao espectador. Ed Crane é uma não entidade, apenas um barbeiro invisível que não cria impressão nem memória.
Este é também um filme de época, algures no pós 2ª Guerra Mundial, e os Coen voltam a reunir um elenco de luxo para dar vida às suas coloridas personagens: Frances McDormand, James Gandolfini, Scarlett Johansson, Richard Jenkins, Tony Shalhoub, entre outros, gravitam à volta de Thornton que volta a ser, como muitas outras personagens dos Coen, um anti-herói movido pela ambição da riqueza fácil que despoleta uma cadeia de consequências que o ultrapassam e se revelam trágicas, retribuição moral para a tentativa de fuga à inevitabilidade da rotina do dia-a-dia.
O que distingue Ed Crane dos outros personagens típicos é que atravessa todos os acontecimentos com uma indiferença e aceitação (ou será resignação?) onde os outros perderiam a cabeça. A inadequação das suas tentativas de sucesso e os desproporcionados contratempos, apenas inconveniências incapazes de abalar a sua postura. Exemplo disto é um confronto de desfecho trágico que, depois de terminado, não o impede de retomar o voz-off que tinha ficado interrompido na cena anterior. É uma sequência que resume o tom do filme e, ao mesmo tempo, o seu protagonista principal.
Se juntarmos a isto referências a encontros imediatos do 3º grau com naves alienígenas por certo torna-se óbvio que estamos perante mais um ovni como só os Coen nos sabem proporcionar.
Salve, César! estreia a 25 de Fevereiro.