10 / O oeste justiceiro de Clint Eastwood / Outubro 2018
Clint Eastwood nasceu a 31 de Maio de 1930. Depois de granjear algum sucesso com o seu trabalho na televisão, tornou-se uma estrela internacional ao participar como o Homem Sem Nome numa trilogia de filmes realizados por Sergio Leone que se tornariam conhecidos como a «Trilogia dos Dólares» — Por Um Punhado de Dólares (Per un pugno di dollari, 1964), Por Mais Alguns Dólares (Per qualche dollaro in più, 1965) e O Bom, o Mau e o Vilão (Il buono, il brutto, il cattivo, 1966). Estes títulos, além de darem a conhecer ao mundo o lacónico actor, tiveram um papel fundamental no sub-género do western que se convencionou chamar spaghetti, dado serem produzidos em Itália. Apesar de ser ocasionalmente criticado por John Wayne, dado o olhar pouco convencional dos seus títulos sobre o mais americano dos géneros cinematográficos, Eastwood foi-se enraizando como uma figura mítica da Hollywood clássica, participando em jingoístas fitas da Segunda Guerra Mundial, continuando a participar em filmes que recuperavam a mitologia do faroeste e transpondo a mesma lei da bala para a conturbada selva urbana da década de setenta noutra das suas mais perenes criações, o detective Harry Callahan, em A Fúria da Razão (Dirty Harry, Don Siegel, 1971).
A sua carreira como realizador, iniciada na mesma década, foi reflectindo imediatamente interesses temáticos mais heterogéneos e variados do que as suas escolhas como actor deixariam adivinhar. Por entre thrillers psicológicos — Destinos nas Trevas (Play Misty For Me, 1971) —, dramas românticos — Ontem ao Fim do Dia (Breezy, 1973) —, filmes de acção — A Escalada (The Eiger Sanction, 1975) —, musicais — A Última Canção (Honkytonk Man, 1982) — e títulos biográficos — Bird - Fim do Sonho (Bird, 1988) —, Eastwood foi construído um corpo de trabalho que conta apenas com quatro títulos situados no faroeste em quase meio século de carreira atrás das câmaras. Para o autor, o western não é uma obsessão, apesar do seu legado aí estar enraizado de forma inolvidável; é apenas mais uma localização para as histórias que quer contar.
O seu retrato anti-heróico da «fronteira americana» é normalmente pincelado por conceitos de justiça e vingança, bem como por doses generosas de violência realista — uma das críticas apontadas pelo mítico John Wayne. Se O Pistoleiro do Diabo (High Plains Drifter, 1973) e Justiceiro Solitário (Pale Rider, 1985) constituem extensões da figura espectral encenada nos filmes de Sergio Leone, parecendo representar pólos opostos de uma perspectiva divina, O Rebelde do Kansas (The Outlaw Josey Wales, 1976), uma realização «acidental” de Eastwood — que tomou as rédeas ao projecto depois do afastamento de Philip Kaufman —, e Imperdoável (Unforgiven, 1992) traçam retratos mais terra-a-terra, por isso mais corpóreos e terrenos (não confundir, por favor, com verosimilhança; estes continuam a ser expressões de uma depurada linguagem cinematográfica) que dialogam e questionam a mitologia perpetuada pelo próprio autor. Laços familiares, cobardia, arrependimento e redenção são conceitos explorados em dois títulos que definem também um ciclo de reconhecimento ao trabalho de Clint Eastwood. O Rebelde do Kansas foi o seu primeiro título nomeado para um Óscar da Academia de Hollywood, enquanto que Imperdoável foi o filme da sua consagração com que acabou por arrecadar quatro estatuetas, incluindo Melhor Filme e Melhor Realizador.
Em 2018, Clint Eastwood continua no activo aos oitenta e oito anos de idade. Nem sempre uma figura consensual, é sem sombra de dúvida um ícone cultural e uma importante referência do cinema norte-americano. Embora aparentemente tenha deixado as planícies poeirentas do faroeste para trás, vamos olhar sobre os quatro westerns que realizou e (re)descobrir o que o motivou a pegar na arma e na câmara ao mesmo tempo…
António Araújo, Junho 2018
Fontes primárias
Cinema
O Pistoleiro do Diabo (High Plains Drifter, Clint Eastwood, 1973);
O Rebelde do Kansas (The Outlaw Josey Wales, Clint Eastwood, 1976);
Justiceiro Solitário (Pale Rider, Clint Eastwood, 1985);
Imperdoável (Unforgiven, Clint Eastwood, 1992).
Fontes secundárias
Bibliografia
Foote, John H. (2008) Clint Eastwood: Evolution of a Filmmaker. Praeger;
Neibaur, James L. (2015) The Clint Eastwood Westerns. Rowman & Littlefield Publishers.