Na recta final do século XX, com Pierce Brosnan, James Bond passa de sério a indecifrável e retorna às piadas gratuitas em momentos inadequados.
007 - GoldenEye (GoldenEye), 1995, dir. Martin Campbell
Pierce Brosnan esteve quase para ser o James Bond em 1987 mas compromissos com a série de TV Remington Steel não lhe permitiu aceitar o papel. A ideia ficou latente no inconsciente colectivo e, quando finalmente vestiu o fato do agente secreto em 007 - GoldenEye a resposta foi extremamente positiva.
Acontece que não sou grande fã desta encarnação do James Bond. A interpretação de Brosnan é impenetrável e a sua seriedade incompatível com as piadas ao estilo de Roger Moore, sem que aqui haja sequer o contexto tolo para a sua existência. Além disso a actualização da série para os anos 90 coloca Bond de metralhadora na mão com demasiada frequência colocando-o ao nível de um qualquer Rambo ou Comando.
A história não é má, aproveitando o rescaldo da Guerra Fria. A adição de M (Judi Dench) é das melhores coisas deste filme, bem com a competente direcção, se bem que este não é o melhor filme do James Bond realizado por Martin Campbell.
6/10 martinis
007 - O Amanhã Nunca Morre (Tomorrow Never Dies), 1997, dir. Roger Spottiswoode
Um James Bond muito pouco inspirado. Continuo sem tomar o pulso a Pierce Brosnan e até o excelente Jonathan Pryce aparece em completo overacting, trincando desalmadamente o cenário.
Na tentativa de capitalizar o sucesso oriental de Michelle Yeoh esqueceram-se de um pormenor essencial: darem-lhe uma personagem.
E o que dizer da tentativa de comentário aos media cozinhando um vilão magnata de um império noticioso à procura de audiências?
O mais fraco Bond da era Brosnan.
5/10 martinis
007 - O Mundo Não Chega (The World Is Not Enough), 1999, dir. Michael Apted
Ao terceiro filme Pierce Brosnan oferece-nos a sua mais interessante iteração da personagem num dos mais interessantes filmes da série. Sim, leram bem: 007 - O Mundo Não Chega é o melhor Bond da era Brosnan. Tem uma narrativa que explora os fantasmas do passado de M confrontando o dever e lealdade à missão do MI-6 em oposição à lealdade inter-pessoal.
Nitidamente um tema fértil pois Skyfall será, uns anos depois, uma variante do mesmo. Aqui Michael Apted carrega no acelerador das cenas de acção e, não sendo subtil, há um maior prazer quando estas são postas ao serviço de uma narrativa envolvente.
Sophie Marceau é uma das melhores Bond Girls, tanto em sensualidade natural, como um ameaça latente. Robert Carlyle é convincentemente assustador e trágico em igual medida. Denise Richards é um erro de casting.
Óptima surpresa e um James Bond subvalorizado.
7/10 martinis
007 - Morre Noutro Dia (Die Another Day), 2002, dir. Lee Tamahori
Morre Noutro Dia é um título que se verificou irónico para esta entrada no cânone. Com a introdução de Jinx (Halle Berry) pretendia-se expandir o universo com um eventual spin-off e, não só isso não aconteceu, como o próprio franchise sofreu reboot depois deste "episódio".
Incoerente e com níveis inaceitáveis de inverosimilhança, Morre Noutro Dia teve pelo menos o condão de apresentar ao mundo Rosamund Pike que, mesmo sem muito para fazer, ofereceu uma interpretação de encher o olho que lhe abriu as portas para uma sólida carreira.
De resto uma série de incógnitas. Carro invisível? Surf militar? Kite surf com sucata? Perseguição solar? Morte por lazer? Mas por acaso estamos num mau Bond da era Roger Moore?
Apenas supera 007 - O Amanhã Nunca Morre pela convicção dos seus exageros.
5/10 martinis