Com Daniel Craig a série chega finalmente ao século XXI com um reboot espectacular que faz tabula rasa dos lugares comuns e eleva a fasquia no que respeita à caracterização e vida interior do agente secreto mais conhecido do mundo.
007: Casino Royale (Casino Royale), 2006, dir. Martin Campbell
Quem diria que Martin Campbell, o homem que nos dera 007 - GoldenEye, faria tal brilharete cumprindo de forma exímia o caderno de encargos: trazer o James Bond para uma era pós Jason Bourne mantendo a identidade própria, eliminando as piadas gratuitas, gadgets irrealistas e as cenas de acção cartoonescas.
Daniel Craig é um Bond carrancudo mas em Casino Royale brilha nas cenas com a excelente Eva Green rendilhando neste filme alguma da bagagem que condiciona o futuro desprendimento da personagem em relação ao sexo post - não justificando, ainda assim, a misoginia da personagem.
Cenas de acção espectaculares em quantidade suficiente para apimentar uma trama que consegue a proeza de tornar interessante um jogo de póquer, personagens que sentem na pele a consequência dos seus actos, um vilão memorável despachado de forma pouco ortodoxa numa cena anti-climática e uma sequência final a concluir a narrativa mas a prometer continuidade directa no próximo filme fazem deste o mais recompensador capítulo da saga.
10/10 martinis
007: Quantum of Solace (Quantum of Solace), 2008, dir. Marc Forster
Que tropeção logo após Casino Royale! O facto que iniciou filmagens sem um argumento finalizado é notório imediatamente no role de cenas de acção descontextualizadas e para encher chouriços. Ainda por cima filmadas em registo "Paul Grengrass dos pobres" - compare-se a clareza e objectividade das cenas de acção filmadas por Martin Campbell no filme anterior.
Trama inconsequente, vilão esquecível, Bond Girl unidimensional - apesar do esforço por usá-la como reflexo do herói, na sua senda de vingança - e um final com muito fogo-de-artifício mas pouco estrondo fazem de 007: Quantum of Solace uma desilusão após a entrada triunfal de Daniel Craig na série.
5/10 martinis
007: Skyfall (Skyfall), 2012, dir. Sam Mendes
Skyfall retoma o tema já abordado em 007 - O Mundo Não Chega: os fantasmas do passado que regressam para ajustar contas. Também aqui é M que se vê pessoalmente perseguida por um ex-agente irá questionar a lealdade desta e que levará James Bond a confortar-se com essa mesma questão.
Sam Mendes é um realizador com óptima sensibilidade visual e, com o contributo de Roger Deakins na fotografia, oferece-nos aquele que é possivelmente o mais bem fotografado filme da série, com especial destaque para a cena final, um confronto em contra-luz com o laranja do fogo massivo a contornar, a espaços, apenas silhuetas num teatro de sombras chinesas de espectacular efeito cénico.
Pena é que as repetidas visualizações do filme revelem os seus pontos fracos, nomeadamente uma série de inconsistências narrativas no plano do vilão e, curiosamente, no plano do próprio James Bond que se revelam mecânicas de dispositivos narrativos para forçar as ressonâncias temáticas a que se propõem.
Ainda assim, óptimo capítulo, retomando dinâmicas e personagens antigas tais como Q, Moneypenny ou mesmo um vintage Aston Martin.
8/10 martinis