Comédias à espanhola
Santi, Lola, Pep, Gorka e Byron são recrutados pelo Ministro Boyero para substituir o Corpo de Elite Autónomo, vítima de uma emboscada traidora, numa missão para recuperar uma bomba nuclear que ameaça Espanha. Oriundos das diversas regiões e instituições militares do país têm de se unir no esforço de defender a segurança nacional. Santi é um Agente de Mobilidade madrileno, Lola é uma Guarda Civil andaluza, Pep é um Mosso d’Esquadra catalão, Gorka é um Ertzaina do País Basco e Byron é um emigrante equatoriano que alega ter nascido em Cuenca e que pertence à Legião Espanhola.
Corpo de Elite é uma comédia com inclinações de spoof que remete para o imaginário do James Bond e Missão: Impossível, na linha do que Rowan Atkinson fez com Johnny English (2003) e O Regresso de Johnny English (2011), se bem que com os elementos nonsense mais contidos. E este é um dos primeiros sinais de alerta pois em 2016 esta é uma premissa muito batida e com um enorme défice de originalidade. Infelizmente a execução confirma todas as piores previsões. Apesar de algumas gargalhadas genuínas no primeiro terço do filme, a banalidade e previsibilidade do humor desperdiça o potencial de confronto regional que a combinação dos vários protagonistas promete. Acabamos com um híbrido de narrativa genérica, de cariz universalmente reconhecível, com personagens muito específicas caracterizadas pelas particularidades regionais espanholas, dirigidas ao público-alvo do próprio país de produção e algo herméticas para os restantes espectadores que, no entanto, são tratadas de forma estereotipada, aprisionadas em piadas xenófobas, sexistas ou, pior que tudo, sem graça.
A diversidade de produção é saudável para qualquer indústria cinematográfica, e os valores de produção são assinaláveis e à altura de muitas das produções anglo-saxónicas onde foi buscar o template, com as limitações de orçamento a afectarem apenas de forma óbvia as poucas instâncias onde são utilizados efeitos visuais digitais. É pena que tais recursos sejam, então, desperdiçados em tentativas genéricas de humor, diluindo as especificidades geográficas que lhe poderiam dar um traço distintivo.
Depois de Amaia (Clara Lago), uma basca, se separar do andaluz Rafa (Dani Rovira), apaixona-se por Pau (Berto Romero), um catalão. Ao anunciarem que se vão casar Koldo (Karra Elejalde), o tradicional pai de Amaia, viaja até Sevilha para convencer Rafa a reconquistá-la. Entretanto juntam-se a Merche (Carmen Machi), a mãe de Amaia e a Judit (Belén Cuesta), a planeadora de casamentos apaixonado por Pau em casa da avó deste, Roser (Rosa Maria Sardà), uma catalã de gema convencida que a Catalunha conseguiu a independência.
De título original Ocho apellidos catalanes esta é uma sequela de Namoro à Espanhola, Ocho apellidos vascos no original, uma produção de 2014 e que é o título espanhol de maior sucesso comercial em Espanha, e o segundo título mais rentável de sempre, apenas atrás de Avatar, no país vizinho. Apesar disso não se torna essencial ter visto o original para ver Namoro À Espanhola - Aventura Na Catalunha pois, não só as cenas iniciais nos fazem um resumo e ponto de situação, delineando perfeitamente as peças do puzzle, como estamos perante uma construção narrativa algo estereotipada onde o humor nasce, mais do que da surpresa ou do original, do reconhecimento do que é familiar.
Também aqui se exploram as diferenças culturais existentes nas várias regiões espanholas de cariz mais separatista, nomeadamente através da colocação em cena de bascos e catalães de ideias fixas, personagens pitorescas, no caso de Koldo, um basco que, nem para um transfer de ligação de comboios, põe o pé em Madrid, tendo de ser carregado às costas por Rafa, e contraditórias, no caso de Pau, um catalão hipster que, ao mesmo tempo que tenta convencer a avó de que a Catalunha é independente, se declara um cidadão do mundo.
Apesar das personagens se encontrarem prisioneiras dos clichés do género, e da natureza específica das relações e tensões entre os habitantes das diferentes geografias espanholas, Namoro À Espanhola - Aventura Na Catalunha mantém um ar despretensioso, de apelo popular, que nos conquista e é consistentemente divertido na execução do caderno de encargos da comédia romântica de situação a que se propõe. No final pouco importa que saibamos exatamente o que nos espera a cada curva narrativa pois damos por nós a sorrir com a inevitável felicidade que os protagonistas encontram no desfecho.