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Drácula, o príncipe dos vampiros de Bram Stoker

Drácula, o príncipe dos vampiros de Bram Stoker

No próximo episódio de Universos Paralelos, um programa da autoria de António Araújo (Segundo Take), José Carlos Maltez (A Janela Encantada) e Tomás Agostinho (Imaginauta), enfrentamos mais de um século de representações de Drácula, o conde sanguinário criado por Bram Stoker que abriu a porta para o vampirismo, hodiernamente ainda tão prevalente. Não percam na próxima quarta-feira, 13 de Maio, o episódio 29 em www.segundotake.com/universos-paralelos.

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Em 1897, o irlandês Abraham 'Bram' Stoker publicou aquele que viria a ser o seu mais famoso livro. Drácula, de seu nome, era um romance na veia gótica do século XIX, que explorava o mito do vampirismo, numa história epistolar de suspense, horror e aventura, passada, em parte, na Inglaterra vitoriana.

Stoker, um funcionário público, na cinzenta Dublin, que escrevia críticas de teatro por hobby, veio a conhecer o famoso actor inglês Henry Irving, o qual o contratou como agente. Desse modo, Stoker mudou-se para Londres, e viajou pela Europa, tomando contacto com o folclore que lhe inspiraria a história de vampiros. Estas faziam já parte da literatura britânica, desde a célebre noite de tempestade de 1816 nas margens de um lago suíço – da qual saiu um fragmento de Lord Byron e o conto de John Polidori, The Vampyre: A Tale (1819) –, até ao popular Varney, The Vampire de James Malcolm Rymer (publicado entre 1845 e 1847) e à novela Carmila de J. Sheridan Le Fanu (1872).

Durante cerca de sete anos, Bram Stoker estudou as origens de crenças populares e mitos de vampirismo, descobrindo que este culto do sangue e das suas propriedades mágicas pode ir do antigo Médio Oriente (Lilith) à Índia (Khali), do México azteca ao extremo oriente. Mas foi principalmente o Leste europeu que o inspirou, com registos de histórias de cemitérios profanados, por pessoas que – quando males inexplicáveis assolavam uma aldeia – procuravam nas campas sinais de que algum corpo não descansava devidamente, e voltava à noite para trazer a doença e a morte.

Lendo sobre esses relatos, e compilando as características atribuídas e estes seres fantásticos, Stoker criou um compêndio que se tornou a pedra basilar para todas as obras futuras sobre vampiros. Mas ao invés de criar uma história sobre mitos antigos, Stoker, renovou-a, e trouxe o seu personagem titular – um conde ancestral, culto, e de boas maneiras – da longínqua Transilvânia para a moderna e industrial Inglaterra do seu tempo, confrontando antiguidade e modernidade, mito e ciência, Oriente e Ocidente.

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Numa Inglaterra, ainda puritana, que vivia o sensacionalismo de Jack o Estripador, lia avidamente Sherlock Holmes, e se espantava com todos os avanços científicos recentes, Drácula foi recebido com entusiasmo, tornando-se um clássico imediato. Tal sucesso passou fronteiras, e a prova é a adaptação ao cinema, em 1922, por F. W. Murnau, no filme Nosferatu, O Vampiro, um clássico do expressionismo alemão, que acabou proibido pelos herdeiros de Stoker.

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Mais sorte teve Hamilton Deane, que adaptou a obra ao teatro, nos Estados Unidos, onde teve carreira brilhante na Broadway. Tal fez com que Hollywood cobiçasse o tema, e a Universal – então a lançar-se no cinema de terror – adaptou a peça ao cinema, em 1931, lançando a figura do mesmo actor que vestira a capa de Drácula em palco, o húngaro Bela Lugosi. Nada mais seria como dantes, Drácula passava a aristocrata sofisticado, de capa preta e olhar hipnótico, figura que a Universal exploraria em mais cinco filmes (seis, se contarmos a versão espanhola do filme de 1932), com Lon Chaney Jr. e John Carradine também a vestirem a capa, mas a qualidade a decrescer, numa tendência de repetir clichés e de lançar monstros como atracções de feira.

Com os filmes de vampiros, e de Drácula (nem sempre nomeado como tal por razões legais), a proliferarem, é em 1958 que o personagem ganha novo ímpeto, quando a inglesa Hammer estreia O Horror de Drácula, protagonizado por Christopher Lee. Toda uma nova geração via agora sangue vermelho, dentes pontiagudos, e olhos raiados de sangue, na figura imponente e ameaçadora de Lee, que entraria em várias sequelas até 1973.

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Desde então o príncipe dos vampiros nunca mais nos deixou, continuando a ser readaptado, seja no vampiro negro de William Marshall em O Vampiro Negro (1972), no romântico sedutor de Frank Langella em Drácula (1979), ou na bizarra figura quase inumana de Klaus Kinsky no remake Nosferatu, O Fantasma da Noite (1979). Talvez hoje a sua forma mais conhecida seja a trazida por Francis Ford Coppola no luxuoso e muito barroco filme Drácula de Bram Stoker (1992), que assumiu o papel de contar pela primeira vez a história tal como vem no livro.

Desde o final do século XX assistiu-se a uma grande popularidade do género no cinema e na televisão, com vampiros de todas as formas e feitios (que é como quem diz, de todas as intenções e graus de malvadez), em géneros que vão da comédia ao romance, da aventura ao terror. Com tantos vampiros de proveniências e comportamentos tão variados, espanta quase que o "velhinho" Drácula ainda seja recuperado de tempos a tempos. Mas ele aí continua, como marco intemporal, e símbolo da cultura ocidental, nem que seja para leituras revisionistas de que o mais recente exemplo é a minissérie de 2020 Drácula, criada por Mark Gatiss e Steven Moffat.

José Carlos Maltez, Maio de 2020.


Fontes primárias

Bibliografia

  • Stoker, Bram (1897) Drácula. London: Archibald Constable and Company

  • Stoker, Bram (1914) Dracula’s Guest in Dracula's Guest and Other Weird Stories. Abingdon-on-Thames: George Routledge and Sons

Cinema (filmografia seleccionada)

  • Nosferatu, O Vampiro (Nosferatu, eine Symphonie des Grauens, F. W. Murnau, 1922)

  • Drácula (Dracula, Tod Browning, 1931)

  • Drácula (Dracula, George Melford, 1932) - (versão espanhola do original)

  • Vampiro Humano (Dracula's Daughter Lambert Hillyer, 1936)

  • O Filho de Drácula (Son of Dracula, Robert Siodmak, 1943)

  • O Regresso do Vampiro (The Return of the Vampire, Lew Landers, 1944)

  • A Casa de Frankenstein (House of Frankenstein, Erle C. Kenton, 1944)

  • O Castelo de Drácula (House of Dracula, Erle C. Kenton, 1945)

  • Abbott e Costello e os Monstros (Abbott and Costello Meet Frankenstein, Charles T. Barton, 1948)

  • O Horror de Drácula (Dracula, Terence Fisher, 1958)

  • As Noivas de Drácula (Brides of Dracula, Terence Fisher, 1960)

  • Drácula, Príncipe das Trevas (Dracula: Prince of Darkness, Terence Fisher, 1966)

  • O Sinal de Drácula (Dracula Has Risen from the Grave, Freddie Francis, 1968)

  • Provem o Sangue de Drácula Taste the Blood of Dracula, Peter Sasdy, 1970)

  • As Cicatrizes de Drácula (Scars of Dracula, Roy Ward Baker, 1970)

  • Drácula, O Príncipe das Trevas (Count Dracula, Jesús Franco, 1970)

  • Drácula 72 (Dracula A.D. 1972, Alan Gibson, 1972)

  • O Vampiro Negro (Blacula, William Crain, 1972)

  • Drácula tem Sede de Sangue (The Satanic Rites of Dracula, Alan Gibson, 1973)

  • Sangue Virgem para Drácula (Blood For Dracula Paul Morrissey, 1974)

  • Drácula (Dracula John Badham, 1979)

  • Nosferatu, o Fantasma da Noite (Nosferatu: Phantom der Nacht, Werner Herzog, 1979)

  • Drácula de Bram Stoker (Bram Stoker's Dracula, Francis Ford Coppola, 1992)

  • Dracula: Pages From a Virgin's Diary (Guy Maddin, 2002)

  • Dracula 3D (Dario Argento, 2012)

  • Drácula: A História Desconhecida: (Dracula Untold, Gary Shore, 2014)

Televisão (filmografia seleccionada)

  • Dracula (Dan Curtis, 1974) [telefilme]

  • Count Dracula (Philip Saville, 1977) [telefilme]

  • Dracula (Universal Television, Cole Haddon, 2013–2014) [10 eps.]

  • Dracula (BBC, Mark Gatiss, Steven Moffat, 2020) [3 eps.]

Teatro (selecção)

  • Dracula (Hamilton Deane, 1924)

  • Dracula (1977)

  • Dracula (John Godber & Jane Thornton, 1995)

Outras referências

Literatura pré-Drácula

  • Lord Byron (1813) The Giaour (poema)

  • Lord Byron (1918) Fragment of a Novel (fragmento)

  • Polidori, John (1819) The Vampyre: A Tale (conto)

  • Nodier, Charles (1820) Lord Ruthwen ou les Vampires

  • Tolstoi, Alexis (1941) The Family of the Vourdalak

  • Tolstoi, Alexis (1941) The Vampire

  • Rymer, James Malcolm (1845–1847) Varney, The Vampire

  • Féval, Paul (1860) Le Chevalier Ténèbre

  • Féval, Paul (1865) La Ville Vampire

  • De Maupassant, Guy (1886) The Horla (conto)

  • Le Fanu, J. Sheridan (1872) Carmila

  • Wachenhusen, Hans (1878) Der Vampyr – Novelle aus Bulgarien

  • Nizet, Marie (1879) Le Capitaine Vampire

  • Braddon, Mary Elizabeth (1896) Good Lady Ducayne (conto)

Televisão (selecção)

  • Dark Shadows (ABC, Dan Curtis, 1966-1971)

  • True Blood (HBO, Alan Ball, 2008-2014)

  • Being Human (BBC Three, Toby Whithouse, 2008-2013)

  • The Vampire Diaries (The CW, Kevin Williamson & Julie Plec, 2009-2017)

  • The Strain (FX, Guillermo del Toro, Chuck Hogan, 2014-2017)

Cinema

  • Contam-se mais de duas centenas de filmes sobre vampiros

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