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Saint Maud

Saint Maud

Uma das surpresas da 14ª edição do MOTELX tem sido descobrir não só variados títulos realizados por mulheres como inúmeras estreias atrás das câmaras. Saint Maud pertence a estas duas categorias, sendo a estreia na realização de longas-metragens de Rose Glass, autora britânica responsável por uma mão-cheia de curtas metragens. A melhor notícia ainda é que Saint Maud, exibido e aclamado em Setembro do ano passado no Festival Internacional de Cinema de Toronto, prontamente adquirido para distribuição nos EUA e no Reino Unido pela A24 e StudioCanal, respectivamente, é um dos melhores títulos (dos que tive oportunidade de ver) deste certame.

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Saint Maud é um filme de terror psicológico centrado numa brilhante interpretação de Morfydd Clark como Maud, uma jovem enfermeira que recentemente descobriu Deus. Motivada por um sentimento de propósito e chamamento divino, Maud vai ficando progressivamente mais obcecada com a salvação espiritual de Amanda, uma ex-bailarina em fase terminal, encarnada por Jennifer Ehle. Amanda é a sua paciente privada, inconformada com a proximidade da morte e disposta a viver os seus dias na companhia de amigos e amantes, o que choca frontalmente com as devotas crenças de Maud. Com a sua fé colocada à prova, fruto do seu passado e dos pecados que tenta desesperadamente contrair, Maud vê confirmado o seu chamamento divino, mas será a sua crença fruto de doença mental, do chamamento de um Deus castigador ou de uma outra qualquer entidade sinistra?

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Saint Maud tem como grande trunfo o assumir da perspectiva da sua protagonista, com Morfydd Clark a carregar a narrativa às costas com uma interpretação de incrível fisicalidade. A partilha deste ponto de vista do narrador não fiável é crucial no crescente sentimento de inquietação gerido com mestria por Rose Glass. Independentemente da causa dos comportamentos de Maud, partilhamos o entendimento das suas motivações e testemunhamos as suas acções progressivamente mais preocupantes e fatídicas. A tensão crescente é fruto desta cumplicidade com o espectador. E, atenção, não há aqui nenhum puzzle para resolver ou mistério com reviravolta final, mas sim um subtil e personalizado tratado sobre as ténues fronteiras entre fé e o fanatismo, a doença mental, a solidão e a possessão que é tanto um tocante drama como um eficiente filme de terror psicológico, reservando para as sequências finais um (perfeitamente merecido) susto que, como nunca me tinha acontecido, me fez sentir calafrios da ponta dos cabelos até aos dedos dos pés.

Psycho Goreman

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Amulet

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