Ainda a processar o desaparecimento de David Bowie decidi recuperar um filme indissociável da sua memória: Labirinto, realizado por Jim Henson em 1986.
David Bowie foi o verdadeiro camaleão da música popular e uma figura que, independentemente do nosso nível de envolvimento pessoal, parecia perene tal a importância indiscutível do seu estatuto no que respeita à cultura popular do final do século XX e do virar deste para o novo milénio. Nunca conheci a sua música além dos singles clássicos e best-ofs mas enquanto interessado em tudo o que faz parte da cultura audiovisual tinha-o por uma referência maior do que significa ser um visionário e definidor de tendências. Alguém que, ao encarnar variadas personagens em nome da sua arte, inspirava os outros no sentido da expressão pessoal e libertação de tabus sem nunca se expor pessoalmente.
Labirinto é um filme do criador d’Os Marretas, Jim Henson e co-produzido por George Lucas onde David Bowie interpreta Jareth, o Rei dos Goblins que rapta o irmão bebé de Sarah, uma adolescente Jennifer Connely, que terá de atravessar o labirinto do título para recuperar o seu irmão, e ocasionalmente presenteia a sua corte de criaturas com números musicais onde passeia com grande coragem o revelador figurino que é tão deliciosamente anos 80 e que ao mesmo tempo mantém o equilíbrio delicado entre o sublime e o ridículo.
Curiosamente Labirinto não foi um sucesso à data de estreia, facto que desanimou o seu criador Jim Henson que nunca mais realizou uma longa-metragem. Acontece que este filme envelheceu bem e é um bom entretenimento para pais e filhos merecendo o seu estatuto de relativo culto que adquiriu ao longo dos anos. Não será o trabalho mais representativo de David Bowie mas qual será? Numa carreira tão diversa este é mais um momento digno de nota no mosaico daquele que terá sido um dos artistas mais influentes e ao mesmo tempo respeitados de que há memória.
Não percam a versão integral deste texto no episódio 15 do podcast na próxima segunda-feira, dia 25 de janeiro.