Ao longo do mês de Dezembro partilharei os meus filmes favoritos que vi em 2015. Esta lista não terá nenhuma ordem em especial e não pretende ser completa nem definitiva. Não vi, nem de longe nem de perto, todos os filmes do ano. Este é um texto editado e revisto do original escrito a 20/11/2015 para o episódio 6 do podcast Segundo Take.
Cavaleiro de Copas (Knight of Cups), 2015, Terrence Malick
Com Cavaleiro de Copas Terrence Malick prossegue a sua demanda espiritual em forma de filme. Esta é uma experiência indescritível para quem nela não embarca. É um cinema dos sentidos. Não oferece respostas mas sim questões e reflexões sobre as angústias da existência. O proverbial sentido da vida é alvo de uma exploração fragmentada e embalatória. Qualquer tentativa de sinopse é insuficiente para veicular a forma, os sons ou as imagens que formam um mosaico contemplativo e, consistentemente, uma obra de uma espantosa coerência temática e formal.
Cavaleiro de Copas é um companheiro espiritual d’A Árvore da Vida. Retoma os temas das relações fraternais, da angústia da perda, da procura de sentido e do arrependimento. Enquanto que na Árvore da Vida assistimos à perda da inocência e respectivas dores de crescimento, em Cavaleiro de Copas seguimos Rick, um argumentista de sucesso em Hollywood, mas perdido num deserto existencial não sabendo quem é, para onde vai, ou o que vale. O hedonismo do meio por onde se movimenta não substituindo a procura de algo mais substancial e verdadeiro. A que damos valor? Onde colocamos o nosso amor? O que nos reserva o futuro? Quais os ensinamentos do passado? Qual a luz da nossa vida? O que nos move? E o que nos atormenta? Como encontrar o caminho que nos levará das trevas para a iluminação redentora?
Estruturalmente dividido em secções que correspondem a diferentes cartas do tarô, Cavaleiro de Copas tem uma natureza mais episódica mas mantém a forma “Malickiana” habitual onde os momentos são colecções de fragmentos e sensações e onde o tempo é uma variável desconhecida e o passado, o presente e o futuro se fundem numa corrente de consciência existencialista.
Malick é um humanista. Como tal tem consciência do nosso ínfimo lugar na grande escala do universo, patente nas cenas iniciais onde a Terra é observada do exterior em cenas de rara beleza. Em última instância é também um optimista. Em Cavaleiro de Copas o acto de criar vida é encarado como caminho derradeiro para uma centelha de esperança na incessante busca pelo sublime.